Quem ama estudar comportamento humano e a arte de amar, geralmente passa muito tempo observando as pessoas — sempre sem julgamentos. Afinal, o julgamento revela mais sobre quem julga do que sobre quem é julgado. No fundo, julgar é sempre uma projeção, um reflexo interno que fala mais sobre quem sente do que sobre o outro.
Durante uma corrida no parque, uma observadora percebeu um comportamento curioso: muitos casais se parecem. Não porque um transforma o outro, mas porque possuem interesses convergentes. É pouco provável que um casal sem afinidades consiga manter uma relação saudável e duradoura. Essas afinidades, muitas vezes, ficam evidentes até no modo de vestir.
Porém, mesmo com essas similaridades, sempre existirão diferenças. E o verdadeiro amor se manifesta justamente na capacidade de suportar e respeitar as diferenças. Aquilo que se ama é fácil de aceitar; o desafio está em acolher o que não agrada tanto. Por isso, o exercício de observação é fundamental para aprender a fazer boas escolhas afetivas.
É importante destacar que muitos amam a ideia que criaram sobre quem gostariam de amar — mas essa pessoa idealizada não existe.
Dados recentes mostram que, em 2023, o Brasil registrou mais de 420 mil divórcios. A maioria dessas separações ocorreu entre 5 e 10 anos de relacionamento. Isso pode não ser coincidência.
Muitas pessoas se apaixonam por uma fantasia de amor, um projeto de pessoa que só existe na imaginação. Criam expectativas, roteiros e promessas silenciosas que nunca foram combinadas com o outro.
Quando a realidade aparece — com seus desafios, imperfeições e contradições —, toda essa idealização tende a desmoronar. Afinal, o que sustenta o afeto não é o desejo de preencher um vazio, mas sim a coragem de olhar para o outro com presença e verdade.
Talvez o maior problema nos relacionamentos atuais não seja a falta de amor, mas sim o excesso de projeção.
O amor maduro não se baseia em um encaixe perfeito, mas em escolhas diárias, na aceitação das imperfeições e na capacidade de crescer junto — e não em viver em guerra com aquilo que o outro não é.
Enquanto alguém insistir em amar uma imagem idealizada, continuará se frustrando com pessoas reais. O verdadeiro amor nasce quando se aceita que aquilo que se idealiza não existe e que o amor genuíno é sempre uma construção consciente.